Desenho atraente, mas pouco original no J6 (branco); detalhes criativos em conjunto compacto no 2008 (prata); mudanças sutis em um estilo já antigo no Duster (marrom)
Concepção e estilo
O Duster é o veterano da classe, lançado em 2010 pela romena Dacia (marca do grupo Renault dedicada a modelos de baixo custo de produção) e um ano depois no Brasil com o logotipo da empresa-mãe. Sua plataforma básica é a mesma do Logan e do Sandero. O 2008 apareceu como conceito em 2012 e chegou ao mercado europeu no ano seguinte, baseado na arquitetura do 208, sendo lançado aqui este ano. Por sua vez, o T6 existe desde 2013 na China, onde se chama Refine S5, e também tem poucos meses de Brasil.
O modelo da JAC impressiona bem em estilo, tendo causado surpresa a vários que o viram, acostumados a seus discretos automóveis. As linhas são atuais e harmoniosas, mesmo que não possam ser chamadas de originais — são evidentes as semelhanças ao Hyundai IX35 com algum ar de Audi Q5 na traseira. O 2008 também mostra bom desenho, com a ousadia em faróis e lanternas já habitual na marca e o curioso detalhe das saliências na parte traseira do teto — apenas nas laterais, sem elevar realmente a seção central —, para as quais um aplique cromado chama atenção. O Duster, embora tenha melhorado com as mudanças para 2016, fica claramente para trás com seu estilo algo antiquado.
Apenas Peugeot e Renault informam o coeficiente aerodinâmico (Cx), de 0,35 e 0,402, na ordem, um bom resultado para o tipo de veículo e outro nem tanto. Um ponto desconcertante do 2008 são os vãos de carroceria: ao menos no avaliado eram irregulares ao extremo, demonstrando baixa qualidade de estamparia, a ponto de deixar frisos cromados desalinhados porque as portas não seguiam um padrão. Para surpresas de muitos o T6 é bom nesse quesito, mais que o Duster, que exagera nos vãos.
Interior mais ousado no 2008 (acima) com os instrumentos lidos por cima do volante; bom acabamento também no JAC e materiais mais espartanos no Duster (ao lado)
Conforto e conveniência
O 2008 tem o interior mais criativo, com a solução já vista no 208 de quadro de instrumentos elevado, visualizado por cima do volante, que por sua vez é pequeno e ligeiramente ovalado (mais largo que alto), enquanto a grande tela de sete polegadas domina a vista central do painel. O T6 fica no meio termo e o Duster é o mais conservador em desenho interno. Em termos de materiais, todos usam plásticos rígidos, com melhor aspecto no Peugeot e no JAC — o Renault é um tanto simples —, enquanto os revestimentos de bancos em couro ou (no caso do 2008) com couro e tecido causam boa impressão. Interessante o uso do tom marrom em seções pelas marcas francesas, o que parece uma tendência, ao menos na categoria. Precisa melhorar o alinhamento de costuras do Griffe.
O 2008 tem o interior mais criativo, com quadro de instrumentos visualizado por cima do volante, que por sua vez é pequeno e ovalado
Uma vez habituado à solução peculiar dos instrumentos, o motorista acomoda-se bem no Peugeot, único do grupo com ajuste do volante também em distância (só em altura nos outros). Fica no Renault uma ressalva ao assento curto, que não apoia bem as coxas. Todos usam reclinação do encosto por alavanca em pontos definidos e têm pedais bem posicionados e apoio adequado para o pé esquerdo fora de uso.
Os mostradores mais importantes, incluindo conta-giros, estão nos três modelos — no Duster o marcador de temperatura do motor deu lugar a uma luz de aviso de superaquecimento, que cumpre bem a função, mas tem seus críticos. Vantagens do 2008 são o repetidor digital do velocímetro, que facilita o controle preciso nesses dias de ruas repletas de radares, e o computador de bordo com duas medições de consumo e velocidade. O do T6 é mal resolvido na mudança de funções, que requer uma operação demorada e nada intuitiva do botão zerador do hodômetro. A iluminação (permanente no JAC e no Peugeot) é em branco nos três carros.
Velocímetro digital é conveniente no Peugeot (acima); JAC (a seu lado) tem computador de bordo difícil de usar; Renault eliminou termômetro do motor
Amplas telas sensíveis ao toque no centro do painel servem aos sistemas de áudio, telefone por interface Bluetooth, navegação (apenas Duster e 2008) e à câmera traseira de manobras (Duster e T6). Sua posição elevada no 2008 deixa-a bem ao alcance da mão e dos olhos, embora cobre o preço de deslocar para baixo os difusores de ar — perdem eficácia e tendem a gelar o braço enquanto se usa a tela. Já a do Renault fica um tanto baixa, deixando clara a adaptação a um carro que não a previa no projeto, e sofre reflexos pela luz que entra pelas janelas.
A favor do T6 estão a conexão HDMI e a integração a telefones inteligentes, que permite usar aplicativos como o consagrado navegador Waze (razão para não haver GPS no aparelho), mas a tela nos pareceu congestionada e menos prática de usar, o oposto da clareza do 2008. Os sistemas de áudio, de qualidade mediana, incluem conexões USB (duas no T6) e auxiliar. Apenas o do chinês traz toca-CDs, que alguns ainda apreciam, mas não pode ser ligado sem a ignição.
Os três modelos são equipados com controle elétrico de vidros com função um-toque apenas para o do motorista e temporizador, controle remoto de travamento das portas, ajuste elétrico de retrovisores, sensores de estacionamento na traseira, porta-copos e volante revestido em couro com controles de áudio e telefone.
Bons detalhes do JAC são faixa degradê no para-brisa (falta incômoda nos outros), para-sóis com iluminação (o do Duster economiza até a tampa do espelho do lado do passageiro), apoios de braço centrais na frente e atrás, vidros traseiros que abrem por inteiro, porta-óculos no teto, luzes de cortesia nas portas dianteiras (item que a indústria nacional extinguiu, embora fosse comum há 30 anos), acendedor de cigarros (sem prejuízo da tomada de 12 volts, presente nos demais) e rebatimento elétrico dos retrovisores externos.
Maiores dimensões rendem espaço adicional aos passageiros do T6; posição do motorista melhoraria com volante ajustável em distância
O motorista do 2008 acomoda-se bem; os passageiros, nem tanto: seu espaço no banco traseiro é típico de hatches pequenos
O Duster se beneficiaria de assentos dianteiros mais longos, mas o espaço para quem viaja atrás é quase tão amplo quanto o do JAC
O Peugeot é o único a ter ar-condicionado automático de duas zonas de ajuste (nos outros a regulagem é manual, embora a Renault ofereça a automática no Logan e no Sandero), porta-luvas refrigerado, assistente para partida em rampa (mantém o carro freado até o motorista acelerar o suficiente para sair), acionamento automático do limpador de para-brisa (no T6 há ajuste manual do intervalo entre varridas), sensores de estacionamento dianteiros, teto com ampla área envidraçada (o forro tem acionamento elétrico, que deveria ser um-toque), alarme antifurto com proteção volumétrica (ultrassom), painel mais recuado diante do passageiro para agradável sensação de espaço e — em nossa opinião — o comutador de faróis mais prático, no qual apenas se puxa a alavanca para trocar entre fachos alto e baixo (era assim no Duster, agora não mais).
A favor do Renault há o capô sustentado por mola a gás, tomada de 12 volts para quem viaja atrás, monitoramento do modo de dirigir com atribuição de notas (para estimular a condução econômica) e o comando Eco, que deixa a resposta do acelerador mais lenta, sem afetar a operação do câmbio. T6 e 2008 têm ainda comando automático de faróis, alerta ao motorista para uso do cinto, aviso específico de qual porta está aberta ou mal fechada (geral no Duster) e indicador para mudanças de marcha para cima e para baixo (no Renault indica para cima quando se usa o modo manual). As duas marcas francesas incluem controlador e limitador de velocidade. No Duster e no JAC as maçanetas internas são cromadas, mais fáceis de localizar à noite.
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