Novidade dos franceses traz bons argumentos: saiba se eles são suficientes para deixar o Mobi fora da competição
Texto e fotos: Fabrício Samahá
A Renault ainda não esqueceu a “surra” que levou da Fiat. Apenas cinco meses depois que a francesa lançou sua Duster Oroch, pioneira em uma subcategoria entre as picapes pequenas e as médias, a italiana respondeu com a Toro — um projeto com desenho próprio e muito superior em estilo e refinamento, como ficou claro no comparativo que promovemos.
Dessa vez, quem parece prestes a “apanhar” é a Fiat. Lançado no ano passado, seu Mobi não convenceu plenamente: havia muito de adaptação do Uno a um porte menor, o que resultou em limitações como o diminuto compartimento de bagagem, enquanto a frente longa parecia um desperdício de comprimento. Com vendas medianas até agora, o Mobi ganha um forte concorrente… da Renault: o Kwid.
Fiat Mobi Drive | Renault Kwid Intense | ||||||||
3,57 m | 3,68 m | ||||||||
1,0 litro | 1,0 litro | ||||||||
72/77 cv | 66/70 cv | ||||||||
R$ 47.408 | R$ 40.490 | ||||||||
Preços sugeridos para os carros avaliados, com possíveis opcionais |
Plataforma, motor (emprestado a Sandero e Logan e não o contrário) e até transmissão exclusivos revelam que os franceses se empenharam na tarefa de desenhar um carro menor, com melhor aproveitamento de espaço e soluções pela eficiência. É um bom começo — mas seria o novo Renault um carro realmente superior ao Fiat? Tarefa para um comparativo completo, ao estilo do Best Cars, responder.
Recebemos o Kwid em versão de topo Intense (que hoje vem com o pacote Connect, a se tornar opcional mais adiante) ao preço de R$ 40.490, ao qual opusemos o Mobi de topo, o Drive, oferecido a R$ 41.790 (com opcionais, R$ 47.408). A opção se justifica por ser essa versão do Fiat, por enquanto, a única com o moderno motor Firefly de três cilindros, competidor natural do Renault — o Mobi Way, embora mais próximo ao Kwid em altura de rodagem, permanece restrito ao decano Fire de quatro cilindros.
Se os preços estão próximos na configuração básica, como ficam os outros três “Ps”? A proposta de uso é a mesma: carros subcompactos de cinco portas com foco no uso urbano, um tanto restritos a viagens pela escassez de espaço e conforto. Têm porte parecido: o Kwid mede 12 centímetros a mais em comprimento e distância entre eixos, mas é mais estreito e baixo. Em potência, apesar das duas válvulas por cilindro, o motor Fiat (72 cv com gasolina e 77 com álcool) supera o Renault (66 e 70 cv, na ordem).
Apresentados os argumentos de um e outro lado, vamos conferir o que eles representam na prática.
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O desenho do Kwid é todo mais simples e proporcional, com frente curta e maior entre-eixos; os excessos tornam o Mobi mais difícil de agradar
Concepção e estilo
Projeto brasileiro, o Mobi foi lançado em 2016 com plataforma derivada daquela do Uno. O Kwid surgiu antes, em 2015, na Índia e agora ganha fabricação nacional. Ao contrário do Fiat, usa uma arquitetura inédita. Essa diferença pode ser constatada ao comparar seus perfis: o Renault é bem curto na frente, o que sinaliza melhor aproveitamento do espaço ocupado, enquanto o “nariz” pronunciado do Fiat revela a adaptação a partir de um carro maior.
O Kwid é também mais harmonioso no conjunto, com formas simples e tudo mais proporcional. No Mobi os volumes da parte dianteira e dos para-lamas parecem incoerentes ao porte do carro e à traseira curta, como se as partes tivessem sido desenhadas por equipes diferentes e sem comunicação. Solução válida do modelo, comum a alguns chineses do mesmo segmento e ao Volkswagen Up alemão, é a tampa traseira toda de vidro, mais fina e leve que uma de aço.
Embora nenhum dos fabricantes informe o coeficiente aerodinâmico (Cx), presumimos pior resultado no Kwid, pois o vão livre do solo bem maior tem grande influência — veja-se como é raro um utilitário esporte obter bom Cx. Detalhe positivo do modelo está nos vãos menores e bem regulares entre os painéis de carroceria, acima do esperado para um carro tão simples.
Formas e acabamento simples nos dois carros; os instrumentos do Fiat incluem informações adicionais e velocímetro digital; ambos têm computador de bordo
Conforto e conveniência
Simplicidade, ainda que disfarçada por alguns elementos estéticos (como apliques em preto brilhante), é o padrão dos interiores: plásticos rígidos, tecidos ásperos, certas falhas de acabamento. Os bancos compactos apoiam apenas parte das coxas e ficam longe do conforto encontrado em carros médios.
O Kwid sobressai pelo sistema de áudio com tela de 7 pol e navegador; no Mobi, ou se fica com um rádio simples ou com o Live On, uma interface para celular com aplicativo
O motorista do Mobi beneficia-se das regulagens de altura do banco e do volante, ausentes do Kwid, o que é lamentável em uma versão de topo. O banco elevado do Renault deve agradar aos mais baixos, mas deixa a desejar a pessoas de maior porte e, ao entrar, até quem tem menos de 1,80 metro corre o risco de bater a cabeça no teto. Seu volante nos pareceu mais distante do que deveria. Por outro lado, os péssimos bancos dianteiros do Fiat cansam rápido em viagens e seus apoios laterais são apertados. Nos dois a reclinação é por alavanca, o encosto de cabeça é parte do banco (sem problemas), os pedais ficam mais à direita (sem incomodar) e falta bom espaço para o pé esquerdo. No Kwid a haste do pedal de freio pega na ponta de sapatos acima de 40.
O quadro de instrumentos do Mobi, com mostrador digital de várias funções, torna-se superior ao do rival: inclui velocímetro digital, termômetros do motor e do ambiente interno e até informações pouco úteis como as horas de uso do motor. Os dois têm conta-giros, computador de bordo e mostrador ou barras coloridas para orientar a se dirigir com economia. Curioso no Kwid o velocímetro que indica a velocidade real ou mesmo um pouco abaixo dela, diferente do costumeiro. Deve ser revista sua iluminação dos mostradores digitais: fica fraca ao rodar de dia com faróis acesos, como é lei em rodovias.
Volante e banco reguláveis em altura favorecem a posição de dirigir no Mobi, apesar do banco ruim; espaço traseiro é limitado, mas melhor que no oponente
O Renault sobressai em sistema de áudio ao oferecer o Media Nav, de fácil operação, com tela sensível ao toque de 7 pol, navegador e entradas USB e auxiliar. No Fiat, ou se fica com um rádio/MP3 simples ou se tem o Live On: rádio, suporte para celular no painel e comandos no volante. Pela interface Bluetooth e com um aplicativo, controlam-se do carro as funções de áudio, ligações e navegador do celular. Há ainda uma análise de direção econômica, similar à do sistema do Kwid.
A ideia da Fiat foi boa por evitar a compra de um segundo aparelho para o carro, mas nem tanto se o automóvel for compartilhado por alguém sem o aplicativo ou as devidas habilidades. Deveria ao menos aceitar um pendrive na porta USB, o que resolveria nessa situação. Em termos de qualidade sonora os dois são bastante modestos. O espaço para objetos do Kwid, embora maior, está concentrado na grande bandeja do console: carteira, telefone, chaves e todo o resto ficam ali, desorganizados e causando ruídos.
Conveniências em comum abrangem ajuste de altura dos cintos dianteiros, ar-condicionado, bolsas nos encostos dianteiros, comando interno para a tampa traseira e a do tanque, controle elétrico de vidros dianteiros, travas e retrovisores e indicador para trocas de marcha para cima e para baixo. A iluminação interna resume-se a uma luz na frente com temporizador.
Na frente ou atrás, ocupantes mais altos têm menos conforto no Kwid e todos se sentam bem próximos pela cabine estreita; até o acesso à traseira incomoda
Vantagens do Mobi são alarme antifurto volumétrico (ultrassom), alça de teto para o passageiro da frente (Kwid, só atrás), alerta para porta mal fechada (no Renault, ao menos a luz interna fica acesa), controle elétrico de vidros nas portas (em vez de no painel) com função um-toque, temporizador e comando a distância para abrir e fechar; espelho também no para-sol do motorista, espelho para monitorar crianças no banco traseiro, faixa degradê no para-brisa, porta-óculos de teto, sensores de estacionamento na traseira e vidros de trás que descem por inteiro (falta muito para isso no rival).
A favor do Kwid estão alerta para uso de cinto por motorista e passageiro (nenhum no Mobi), câmera traseira de manobras (de resolução um tanto baixa, mas ainda assim um requinte neste segmento), comando na chave para abrir a tampa traseira e maçanetas internas cromadas (tendem a ser mais fáceis de achar à noite). E a pintura envernizada do cofre do motor surpreende diante das economias em outras partes.
Mesmo com toda a contenção de custos, o que poderia melhorar? Nos dois, haver iluminação no compartimento de bagagem, dar opção de controle elétrico de vidros traseiros (manivelas em mãos infantis são um convite a esquecer janelas mal fechadas) e aumentar a capacidade do ar-condicionado. No Fiat o porta-luvas fica muito baixo e abrir a tampa traseira faz o alarme disparar, inaceitável em instalação original.
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Sistema Live On do Mobi comanda aplicativos do celular pelos botões no volante; mostrador indica portas abertas; vidros têm função um-toque; há espelho para acompanhar crianças e porta-objetos junto ao teto
No Renault a tela do painel é propensa a reflexos como em toda a linha da marca, a coluna de direção causa intenso reflexo na lente dos instrumentos sob sol forte, a seleção do computador de bordo é pelo botão zerador do hodômetro e as portas não se destravam ao desligar o carro — precisa-se usar o comando no painel todas as vezes, um absurdo. O limpador de para-brisa com braço único e pantográfico (a exemplo do Toyota Etios) é uma economia inteligente e dá conta do recado, mas o lavador se restringe a dois minguados jatos d’água.
Se espaço interno for importante, qual escolher? Nenhum dos dois, é a única resposta. Na frente as acomodações satisfazem em altura para pessoas de médio porte, mas o Kwid é estreito a ponto de intimidar pela proximidade entre os ocupantes — como se voltássemos aos bancos inteiriços dos anos 70, mas só para dois…
Tela de 7 pol traz áudio, navegador, imagens da câmera e análise de eficiência no Kwid; limpador monobraço tem pantógrafo; amplo espaço para objetos; comandos de vidros no painel
Na traseira, até o acesso de adultos é complicado no Renault: pés acima de 40 precisam ser dobrados para não entalar e o teto baixo traz grande risco de se bater a cabeça ao entrar. O Mobi, pouco mais largo, ainda está longe de acomodar três adultos atrás: é tão limitado quanto o rival para as pernas dos passageiros, tem assento curto e encosto vertical. Se serve de consolo ao Kwid, um ocupante central bem magro teria maior conforto que no adversário.
Se espaço interno for importante, procure outro carro: na frente a altura satisfaz para pessoas de médio porte, mas o Kwid é estreito a ponto de intimidar os ocupantes
Onde o Renault fica bem à frente é em capacidade de bagagem: 300 litros em um compartimento mais horizontal, ante meros 215 litros um tanto verticalizados do Mobi. Fica claro onde a marca aproveitou o espaço economizado com a frente curta. A favor do Fiat há o banco traseiro bipartido 60:40.
Sua tampa de vidro, embora poupe espaço, impôs um vão de acesso bem menor e com base muito alta, que requer levantar mais a bagagem e torna a remoção do estepe um exercício de contorcionismo. Uma caixa inferior removível (Cargo Box) eleva o assoalho, mas parece deixar o espaço ainda mais exíguo. Ambos usam estepe com a mesma medida dos outros pneus, que no caso do Mobi vem sem roda de alumínio (no Kwid todas as rodas são de aço).
Só vantagens para o Renault no uso com bagagem: 85 litros a mais de espaço, compartimento mais horizontal, acesso mais amplo e com base mais baixa
Equipamentos de série e opcionais
Mobi | Kwid | |
Ajuste de altura dos bancos mot./pas. | O/ND | ND |
Ajuste de apoio lombar mot./pas. | ND | ND |
Ajuste do volante em altura/distância | S/ND | ND |
Ajuste elétrico dos bancos mot./pas. | ND | ND |
Ajuste elétrico dos retrovisores | O | S |
Alarme antifurto/controle a distância | O/O | ND |
Aquecimento | S | S |
Ar-condicionado/controle automático/zonas | S/ND | S/ND |
Bancos/volante revestidos em couro | ND | ND |
Bolsas infláveis frontais/laterais/cortinas | S/ND/ND | S/S/ND |
Caixa automática/automatizada | ND/O | ND |
Câmera traseira para manobras | ND | S |
Cintos de três pontos, todos os ocupantes | ND | ND |
Computador de bordo | S | S |
Conta-giros | S | S |
Controlador/limitador de velocidade | ND | ND |
Controle de tração/estabilidade | ND | ND |
Controle elétrico dos vidros diant./tras. | S/ND | S/ND |
Controles de áudio no volante | O | ND |
Direção assistida | S | S |
Encosto de cabeça, todos os ocupantes | ND | S |
Faróis com lâmpadas de xenônio | ND | ND |
Faróis de neblina | O | S |
Faróis/limpador de para-brisa automático | ND | ND |
Freios antitravamento (ABS) | S | S |
Interface Bluetooth para telefone celular | O | S |
Limpador/lavador do vidro traseiro | S/S | S/S |
Luz traseira de neblina | ND | ND |
Navegador por GPS | ND | S |
Rádio com toca-CDs/MP3 | ND/O | ND/S |
Repetidores laterais das luzes de direção | O | ND |
Retrovisor interno fotocrômico | ND | ND |
Rodas de alumínio | O | ND |
Sensores de estacionamento diant./tras. | ND/O | ND |
Teto solar/comando elétrico | ND | ND |
Travamento central das portas | S | S |
Convenções: S = de série; O = opcional; ND = não disponível; NA = não aplicável |
Apesar das válvulas a menos, o motor da Fiat é superior em potência e torque; a favor do Renault está a diferença de peso em 160 kg
Mecânica, comportamento e segurança
Os dois motores são projetos modernos (saiba mais sobre técnica) e seguem a tendência por três cilindros. Embora tenha apenas duas válvulas por cilindro, o do Mobi vence em potência e torque: 72 cv e 10,4 m.kgf com gasolina, 77 cv e 10,9 m.kgf com álcool. No Kwid, apesar da teórica vantagem das quatro válvulas, são 66 cv/9,4 m.kgf e 70 cv/9,8 m.kgf e o pico de torque vem em rotação mais alta.
O que garante agilidade ao Renault é a vantagem expressiva em peso: com quase 160 kg a menos, é como se nele o motorista rodasse só, e no Fiat, com dois passageiros adultos. O Kwid parece ter maior cilindrada no uso em baixas rotações, mas quando os giros sobem o motor deixa de ganhar fôlego: fica claro que, sem a variação de tempo de válvulas usada em Logan e Sandero, a fábrica favoreceu os baixos regimes em prejuízo dos altos. Além disso, o uso parcial do acelerador abre muito a borboleta e, quando se pisa até o fim, pouca potência adicional resta disponível — algo que tem sido comum na indústria.
Entre benefícios e desvantagens, houve grande equilíbrio nas medições de desempenho: o Fiat levou 14 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h, ante 14,2 s do Renault, e retomou de 60 a 120 em quarta marcha em 24,2s contra 22,7 s do rival. O Mobi consumiu menos combustível nos três percursos de medição, mas por pequenas margens. Os dois estão entre os carros mais econômicos que já testamos (veja números e análise detalhada).
Comandos de transmissão são apenas regulares; Fiat poderia dispensar o anel-trava de ré
As vibrações inerentes aos três cilindros estão presentes em ambos: no Mobi, abaixo de 2.000 rpm e acima de 4.000, mas não na faixa média; no Kwid, um pouco mais em médios giros e um tanto excessivas a partir de 5.000 km (o volante chega a vibrar), como se esse conforto tivesse ficado de fora dos objetivos do fabricante — afinal, suavidade custa. Os dois são também um tanto ruidosos, sobretudo no uso rodoviário, em que rolagem, mecânica e aerodinâmica deixam seus ruídos passarem ao interior.
O peso menor em 160 kg garante agilidade ao Kwid, como se levasse dois passageiros a menos que o Mobi, mas quando os giros sobem o motor deixa de ganhar fôlego
Nenhum deles é referência em comando de transmissão, que poderia ser mais macio no Kwid e mais preciso no Mobi. Ambos usam anel-trava para engate da marcha à ré, que no Fiat poderia ser abolido, pois ela fica ao lado da quarta (no adversário está junto à primeira). Agrada no Renault o esforço mínimo para acionar a embreagem.
O Kwid partiu para uma abordagem diferente em suspensão: com 18 cm, seu vão livre do solo supera o de utilitários esporte como Honda HR-V e Jeep Renegade 4×2, embora o protetor de cárter original o diminua de maneira substancial. Embora conveniente no dia a dia urbano com lombadas e valetas, a altura “de utilitário” cobra seu preço: torna-se bem mais difícil acertar a suspensão.
Maior altura de rodagem do Kwid pode ser conveniente na cidade, mas complicou acerto de suspensão, que acabou menos confortável que o do Mobi
O resultado no caso foi apenas razoável. A dianteira tem amortecedores macios, a ponto de atingir os batentes com certa facilidade ao sair de lombadas médias; já a traseira ficou dura e desconfortável, com tendência a saltar como uma pequena picape em ondulações de rodovia. O Mobi tem rodar mais macio e acerto mais coerente no conjunto. Ambos absorvem mal irregularidades e pequenos impactos, o que deixa o interior ruidoso e mina o conforto em vias não pavimentadas.
Havia expectativa quanto ao comportamento dinâmico do Renault por sua relação entre altura e largura. O resultado satisfaz: ninguém estará em perigo por fazer curvas com ele e, com o baixo peso, os pneus 165/70 R 14 são mais que suficientes — situação semelhante à do Mobi, que usa 175/65 R 14. O que os dois fazem sentir é o “efeito joão-bobo”, em que a carroceria se inclina nas curvas e oscila em manobras rápidas de direção, sem perder a compostura.
Ambas as fábricas usaram freios a disco sólidos na frente, solução de menor custo que atende razoavelmente a carros leves. Apesar de não medirmos espaços de frenagem, ficou clara no Kwid a sensação de baixa capacidade ao fim da reta em que medimos desempenho (confirmada em testes de algumas publicações). Boa nos dois é a direção com assistência elétrica, leve em manobras e com o devido peso em velocidade. Acionar a função City do Mobi, que a deixa ainda mais macia, chega a ser desnecessário.
Faróis de refletor único não são os melhores; só Mobi tem repetidores de luzes de direção; fixações Isofix e bolsas infláveis laterais são vantagens do Kwid
Com colunas largas, os dois prejudicam a visibilidade dianteira em ângulo — pior no Mobi — e são limitados para trás. Melhores no Fiat são os grandes retrovisores. Em faróis, equilíbrio: os amplos refletores trazem boa iluminação em facho baixo, mas não em alto, pois os baixos se desligam. Os dois carros usam faróis de neblina (luz traseira, não) e só o Fiat tem repetidores laterais das luzes de direção, que o Renault deixou na Índia.
Bom argumento para o Kwid são as bolsas infláveis laterais dianteiras de série, únicas no segmento (o Mobi fica limitado às frontais, obrigatórias), e as fixações Isofix para cadeiras infantis. Curiosamente, a cabine é tão estreita que talvez seja preciso sair do carro para as bolsas abrirem… Outra vantagem é o encosto de cabeça para o quinto ocupante, que fica com cinto subabdominal nos dois carros.
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E o Mobi automatizado, como ficou?
Ao menos por enquanto, o Mobi leva uma boa vantagem sobre o Kwid quando o tráfego mais para do que anda: a opção de transmissão automatizada monoembreagem GSR Comfort. Lançada no ano passado no Uno, essa evolução da conhecida Dualogic traz avanços em calibração eletrônica para atender às conhecidas queixas de “soluços” nas mudanças de marcha. Por ora, só a versão Drive pode recebê-la ao preço de R$ 46 mil, aumento de R$ 4,2 mil sobre o manual.
Como ficou o acerto da caixa para o motor de três cilindros? Muito satisfatório. As trocas são mais suaves do que o habitual em automatizados, assim como a saída da imobilidade, e mesmo manobras de poucos centímetros são feitas com facilidade. A GSR escolhe bem a marcha para cada condição e, ao contrário do Uno de 1,35 litro, o motor não é forçado a operar em rotações baixas demais.
Como no Uno e no Argo, botões no console central substituem a alavanca, com comandos junto ao volante para trocas manuais. Um modo esportivo (tecla S) mantém rotações mais altas e faz as mudanças em menos tempo.
Medido com gasolina, o Mobi automatizado teve pior desempenho que o manual, como ao acelerar de 0 a 100 km/h em 15,7 segundos ante 14 s. Além dos 5 cv a menos pelo combustível, deve-se considerar a saída mais lenta do GSR: a rotação permitida enquanto freado é baixa, para preservar a embreagem, e não existe o modo de acoplamento rápido visto em alguns carros com Dualogic.
A versão também consumiu mais que a manual, com 16,3 km/l no trajeto urbano leve e 14,9 no rodoviário. Como a escolha de marchas em cada situação pela caixa não é muito diferente da nossa, nem existe conversor de torque para reduzir a eficiência da caixa, a explicação mais coerente para a diferença é mesmo a variação usual entre os carros.
Aceleração | |
0 a 100 km/h | 15,7 s |
0 a 120 km/h | 23,5 s |
0 a 400 m | 21,4 s |
Retomada | |
60 a 100 km/h* | 11,2 s |
60 a 120 km/h* | 19,3 s |
80 a 120 km/h* | 14,9 s |
Consumo | |
Trajeto leve em cidade | 16,3 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 8,6 km/l |
Trajeto em rodovia | 14,9 km/l |
Testes efetuados com gasolina; conheça nossos métodos de medição |
Um mais potente, outro bem mais leve, e os resultados na pista acabaram bem próximos: de 0 a 100 km/h o Fiat chegaria apenas 0,2 segundo à frente
Desempenho e consumo
A favor do Mobi havia potência e torque maiores; pelo Kwid, a importante vantagem em peso. O que isso representou na pista? O resultado foi grande equilíbrio, mesmo que os dados de fábrica (veja mais abaixo) indicassem clara vantagem para o Fiat. Ele venceu por margem mínima nas acelerações, como ao fazer de 0 a 100 km/h em 14 segundos exatos ante 14,2 s do Renault. Ambos perdem bastante tempo entre 100 e 120 por ser necessária troca para quarta marcha: além da manobra em si, o motor perde fôlego pela queda de rotação após a mudança.
Entre as retomadas o Mobi venceu as feitas em terceira ou quinta marcha, e o Kwid, em quarta. Não é um resultado explicado pelas relações de marcha: como se vê na ficha técnica (abaixo), o Fiat é mais curto em terceira e quarta e mais longo em quinta. Trata-se, na verdade, de uma combinação de fatores como rotação, curva de torque dos motores (o Mobi tem mais m.kgf com menos giros) e até mesmo aerodinâmica, que presumimos ser pior no Kwid.
A título de curiosidade, observe-se o quanto se torna lenta a retomada de 80 a 120 km/h ao usar quinta marcha em qualquer um deles: no Renault leva 73% mais tempo que em quarta. Vale notar que ambos os carros tiveram o desempenho medido com álcool, com o qual os recebemos.
Para os testes de consumo foi possível substituir o combustível por gasolina, que é nosso padrão. Aqui o Mobi foi melhor em todos os trajetos por pequenas diferenças. Se na cidade a explicação para sua maior economia pode estar na eficiência do motor em baixa rotação, em rodovia podemos atribuí-la à provável vantagem em aerodinâmica, preço que o Kwid pagaria pelo vão livre típico de SUV. Além disso, o pequeno tanque de combustível do Renault implica autonomia bem menor.
Mobi | Kwid | |
Aceleração | ||
0 a 100 km/h | 14,0 s | 14,2 s |
0 a 120 km/h | 21,4 s | 22,3 s |
0 a 400 m | 19,7 s | 19,8 s |
Retomada | ||
60 a 100 km/h (3ª.) | 10,6 s | 11,1 s |
60 a 100 km/h (4ª.) | 15,5 s | 15,3 s |
60 a 120 km/h (3ª.) | NA | NA |
60 a 120 km/h (4ª.) | 24,2 s | 22,7 s |
80 a 120 km/h (3ª.) | NA | NA |
80 a 120 km/h (4ª.) | 17,3 s | 16,6 s |
80 a 120 km/h (5ª.) | 25,8 s | 28,7 s |
Consumo | ||
Trajeto leve em cidade | 18,1 km/l | 17,0 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 9,8 km/l | 9,5 km/l |
Trajeto em rodovia | 16,1 km/l | 15,5 km/l |
Autonomia | ||
Trajeto leve em cidade | 766 km | 581 km |
Trajeto exigente em cidade | 415 km | 325 km |
Trajeto em rodovia | 681 km | 530 km |
Testes efetuados com álcool (desempenho) e gasolina (consumo); NA = não aplicável; melhores resultados em negrito; conheça nossos métodos de medição |
Dados dos fabricantes
Mobi | Kwid | |
Velocidade máxima | 161/164 km/h | 152/156 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,8/12,0 s | 15,5/14,7 s |
Consumo em cidade | 13,7/9,6 km/l | 14,9/10,3 km/l |
Consumo em rodovia | 16,1/11,3 km/l | 15,6/10,8 km/l |
Gasolina/álcool; consumo conforme padrões do Inmetro |
Só a Renault partiu de uma nova plataforma, específica para carros desse porte, o que explica em parte o menor peso; ambos os motores são modernos
Comentário técnico
• O Kwid usa uma plataforma exclusiva, a menor da família CMF (Common Module Family, família de módulo comum) do grupo Nissan-Renault. Por ora, apenas o Datsun Redi-Go também vendido na Índia a compartilha. O caso do Mobi é diferente: embora a fábrica destaque o que há de novo, sua arquitetura é derivada daquela do Uno, que aproveitou algo do primeiro Palio, que derivou do…
• Apesar de Logan e Sandero o terem recebido antes, o motor SCE de três cilindros nasceu com o Kwid na Índia, de início com 800 cm³ e depois com 1.000. É uma unidade Renault em essência, sem relação com a similar da Nissan — o que não faz muito sentido em uma associação, mas nem tudo o faz na indústria. A versão do menor carro, porém, abre mão da variação de tempo de abertura das válvulas para reduzir custos e tem menor taxa de compressão (11,5:1 em vez de 12:1).
• O motor Firefly da Fiat, lançado no Uno 2017, usa bloco de alumínio e corrente para acionar o comando de válvulas, assim como o rival. Uma diferença é ter apenas duas válvulas por cilindro (quatro no Renault); outras, usar variação de tempo e taxa de compressão bem mais alta: 13,2:1. As versões de três cilindros/1,0 litro e quatro cilindros/1,35 litro são iguais em diâmetro e curso e compartilham muitos componentes — na prática, o maior é o menor com mais um cilindro.
• Barra estabilizadora é um daqueles itens que vale a pena usar, mesmo com algum custo adicional. Com a rolagem (inclinação da carroceria) contida por sua “amarração” entre as rodas do mesmo eixo, a suspensão pode receber molas e/ou amortecedores mais macios, que favorecem o conforto. Os dois carros em questão deixaram o elemento de fora — mesmo na dianteira, onde é mais frequente seu uso —, o que ajuda a explicar o rodar áspero, com má absorção de irregularidades. A versão Way do Mobi, que recebe a barra na frente, mostrou-se mais agradável em pisos de má qualidade.
Ficha técnica
Mobi | Kwid | |
Motor | ||
Posição | transversal | transversal |
Cilindros | 3 em linha | 3 em linha |
Material do bloco/cabeçote | alumínio | alumínio |
Comando de válvulas | no cabeçote | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 2, variação de tempo | 4 |
Diâmetro e curso | 70 x 86,5 mm | 71 x 84,1 mm |
Cilindrada | 999 cm³ | 999 cm³ |
Taxa de compressão | 13,2:1 | 11,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 72 cv a 6.000 rpm/77 cv a 6.250 rpm | 66/70 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 10,4/10,9 m.kgf a 3.250 rpm | 9,4/9,8 m.kgf a 4.250 rpm |
Potência específica (gas./álc.) | 72,1/77,1 cv/l | 66,1/70,1 cv/l |
Transmissão | ||
Tipo de caixa e marchas | manual, 5 | manual, 5 |
Relação e velocidade por 1.000 rpm | ||
1ª. | 4,27 / 6 km/h | 3,77 / 7 km/h |
2ª. | 2,32 / 11 km/h | 2,05 / 12 km/h |
3ª. | 1,44 / 18 km/h | 1,29 / 20 km/h |
4ª. | 1,03 / 25 km/h | 0,95 / 27 km/h |
5ª. | 0,80 / 33 km/h | 0,79 / 32 km/h |
Relação de diferencial | 4,20 | 4,38 |
Regime a 120 km/h | 3.650 rpm (5ª.) | 3.750 rpm (5ª.) |
Regime à velocidade máxima informada (gas.álc.) | 6.350/6.450 rpm (4ª.) | 5.700/5.900 rpm (4ª.) |
Tração | dianteira | dianteira |
Freios | ||
Dianteiros | a disco | a disco |
Traseiros | a tambor | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim | sim |
Direção | ||
Sistema | pinhão e cremalheira | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica | elétrica |
Diâmetro de giro | 10,0 m | 10,0 m |
Suspensão | ||
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal | |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal | |
Estabilizador(es) | não | não |
Rodas | ||
Dimensões | 5,5 x 14 pol | 14 pol |
Pneus | 175/65 R 14 | 165/70 R 14 |
Dimensões | ||
Comprimento | 3,566 m | 3,68 m |
Largura | 1,633 m | 1,579 m |
Altura | 1,502 m | 1,474 m |
Entre-eixos | 2,305 m | 2,423 m |
Bitola dianteira | 1,406 m | ND |
Bitola traseira | 1,4 m | ND |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | ND | ND |
Capacidades e peso | ||
Tanque de combustível | 47 l | 38 l |
Compartimento de bagagem | 215 l | 290 l |
Peso em ordem de marcha | 945 kg | 786 kg |
Relação peso-potência (gas./álc.) | 13,1/12,3 kg/cv | 11,9/11,2 kg/cv |
Garantia | ||
Prazo | 3 anos sem limite de quilometragem | |
Carros avaliados | ||
Ano-modelo | 2017 | 2018 |
Pneus | Pirelli Cinturato P1 | Continental Conti Eco Contact 3 |
Quilometragem inicial | 3.000 km | 1.500 km |
Dados do fabricante; ND = não disponível |
Pagam-se R$ 1,3 mil a mais pelo Fiat, sem opcionais, mas o Renault é que vem mais equipado em termos de conveniência e segurança
Custo-benefício
Os preços básicos estão próximos, com o Mobi mais caro por R$ 1,3 mil. Contudo, quem traz mais equipamentos nessa condição é o Kwid: bolsas infláveis laterais, fixações Isofix, sistema de áudio com navegador e câmera traseira, faróis de neblina, ajuste elétrico de retrovisores. O Fiat avaliado trazia os pacotes de opcionais disponíveis, que incluem áudio (no caso com interface Live On), os citados faróis e itens ausentes do rival como rodas de alumínio e sensores de estacionamento. Só que nessa condição o Mobi se torna caro: R$ 6,9 mil acima do Kwid.
Teria ele outras qualidades que justificassem pagar 17% a mais? Vejamos. As notas (quadro abaixo) indicam que o Fiat é superior em espaço interno, freios e suspensão, mas perde para o Renault em estilo, porta-malas e segurança passiva. Os dois são excelentes em consumo e muito bons em direção, mas críticos em posição de dirigir e espaço interno.
Mais qualidades por menos dinheiro garantem melhor custo-benefício ao Kwid; o Mobi ainda pode ser competitivo, mas precisa de redução de preço
Como as vantagens do Kwid em dois dos itens são consistentes, ele chega com mais pontos ao último e importante item: custo-benefício. Aqui, precisa-se dizer algo mais? Um carro pouco melhor na média custar quase R$ 7 mil a menos faz dele uma opção claramente vantajosa, o que explica os dois pontos a mais nesse quesito.
Afinal, o Mobi levou a “surra” que o novo concorrente fazia esperar? Em termos. Bem preparado com o motor Firefly e algumas vantagens de projeto, o Fiat mantém condições de ser competitivo ao Renault, desde que seu preço seja revisto às condições atuais de competição. Por outro lado, o Kwid estreou com alguns trunfos — um deles o preço bastante atraente. E existe outro item a seu favor, não considerado no comparativo: mesmo quem optar pela mais simples de suas versões levará idêntico trem de força, enquanto a Fiat restringe o eficiente motor Firefly à versão Drive.
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Nossas notas
Mobi | Kwid | |
Estilo | 2 | 3 |
Acabamento | 3 | 3 |
Posição de dirigir | 2 | 2 |
Instrumentos | 4 | 4 |
Itens de conveniência | 3 | 3 |
Espaço interno | 3 | 2 |
Porta-malas | 2 | 4 |
Motor | 3 | 3 |
Desempenho | 3 | 3 |
Consumo | 5 | 5 |
Transmissão | 3 | 3 |
Freios | 4 | 3 |
Direção | 4 | 4 |
Suspensão | 4 | 3 |
Estabilidade | 3 | 3 |
Visibilidade | 3 | 3 |
Segurança passiva | 2 | 4 |
Custo-benefício | 2 | 4 |
Média | 3,06 | 3,28 |
Posição | 2°. | 1º. |
As notas vão de 1 a 5, sendo 5 a melhor; conheça nossa metodologia |
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