Maciez do Citroën não garante o melhor rodar, pois é duro em impactos; amortecedores de Honda, Toyota e VW poderiam ser revistos; Ford tem mais uma vez o melhor ajuste
O Jetta leva nosso segundo lugar: é quase tão bom quanto o Focus em comportamento dinâmico, mas o subesterço poderia ser menor e ele ganharia em conforto com amortecedores — traseiros em especial — mais macios, que “copiassem” menos as oscilações, assim como pneus mais suaves. No Civic e no Corolla, carros de boa estabilidade, o problema está em amortecedores muito firmes nos movimentos rápidos (como pequenas irregularidades do piso), um mal frequente na indústria japonesa que chega a incomodar nesse Honda; ele ainda é muito insatisfatório no isolamento das asperezas do piso, defeito anterior à recente adoção de pneus de perfil mais baixo.
O Focus sobressai em comportamento dinâmico — grande aderência de pneus, controle ideal pelos amortecedores — associado a um rodar confortável
O caso do C4 Lounge é peculiar: para favorecer o conforto a fábrica optou por amortecedores macios em excesso, que o fazem “flutuar” em velocidade e movimentar mais a carroceria em acelerações e frenagens, ao mesmo tempo em que a absorção de impactos deixa a desejar, agravada pelo perfil de pneus mais esportivo entre os cinco modelos: o resultado é um carro insatisfatório em ambos os quesitos, que merece uma recalibração geral. Talvez o acerto original do conjunto se tenha perdido com o aumento da altura de rodagem para o Brasil. A substituição dos pneus Michelin Primacy HP dos dois primeiros Lounges avaliados por Pirelli Cinturato P7 também não parece ter ajudado.
Vale lembrar que o Corolla é o único do grupo sem controle de estabilidade, item que se está tornando padrão na classe nessa faixa de preços — a ausência afeta sua nota em estabilidade. Os freios dos cinco estão bem dimensionados e incluem distribuição eletrônica entre os eixos (EBD). Só o Citroën traz assistência adicional em frenagem de emergência, mas a atuação de seus freios poderia ser menos brusca. As direções usam assistência elétrica (salvo no C4 Lounge, no qual é eletro-hidráulica) e conseguem oferecer peso adequado em velocidade com a esperada maciez em manobras. Precisa diminuir nesse modelo a transmissão de impactos do piso ao volante em curvas rápidas.
Faróis de xenônio, facho autodirecional e lavador no Focus e no Jetta; Corolla é peculiar no facho baixo por leds; C4 Lounge perdeu o xenônio, equiparando-se a Civic em último
Os faróis mais avançados são os do Focus, que na versão Titanium Plus vem com lâmpadas de xenônio para ambos os fachos (no mesmo refletor elipsoidal), controle autodirecional, a exclusiva adaptação do facho à velocidade — mais largo em baixa, mais longo e estreito em alta —, lavadores de alta pressão, correção automática de altura do facho e luzes auxiliares para curvas como as de esquina. De tudo isso, o Jetta com faróis opcionais só não tem a adaptação à velocidade.
No Corolla Altis são usados leds no facho baixo (pela primeira vez em carro nacional), que cumprem bem sua função. O efeito para o motorista é semelhante ao do xenônio, com luz branca e intensa, notando-se de diferente os tons coloridos nas bordas do facho. Contudo, o facho alto depende de lâmpada halógena (convencional) e não há lavador, correção de altura ou facho autodirecional. Em último lugar ficam C4 Lounge e Civic, com lâmpadas halógenas em seus faróis de duplo refletor (elipsoidal no baixo do Honda) e sem os demais recursos citados. A Citroën oferecia xenônio no modelo 2014, o que não acontece mais. Todos têm repetidores laterais das luzes de direção e faróis de neblina, mas falta a luz traseira de nevoeiro a Honda e Toyota.
Em visibilidade, C4 Lounge, Corolla e Jetta oferecem melhor campo visual dianteiro que os demais pela menor obstrução das colunas. Para trás a visão é limitada em todos eles pela forma típica de sedãs, com porta-malas elevado, inconveniente atenuado pelos sensores e câmeras já mencionados. Ponto positivo do Citroën está no alerta para veículo em ponto cego das laterais por meio de leds nos retrovisores. Os espelhos externos são biconvexos do Ford, de campo mais abrangente, item usado apenas no lado esquerdo do Jetta (os demais são convexos).
Além das bolsas infláveis frontais exigidas por lei, os cinco modelos trazem as laterais dianteiras e cortinas, que encobrem a área envidraçada lateral à frente e atrás para proteção da cabeça. O Corolla traz ainda bolsa para os joelhos do motorista. No banco traseiro todos oferecem encosto de cabeça e cinto de três pontos também para o passageiro do centro, assim como fixação de cadeira infantil em padrão Isofix. Os testes de colisão do Latin NCap com os modelos da Ford, Toyota e VW indicaram a mesma classificação: cinco estrelas para ocupante adulto e quatro para criança (este item não é considerado em nossa nota por falta de dados sobre muitos modelos do mercado).
Citroën alerta para veículo em ponto cego; Ford tem retrovisores biconvexos; todos trazem Isofix
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Comentário técnico
• Há diversas diferenças construtivas entre os motores, algumas já citadas no texto principal. Jetta e C4 Lounge usam turbocompressor; ambos e o Focus têm injeção direta. Variação de tempo de abertura de válvulas equipa todos eles, mas o sistema do Civic varia também seu levantamento (com o fim de aumentar a eficiência em baixas rotações, não a potência em altas). O movimento do virabrequim é levado ao comando por uma corrente em todos.
• Nenhum deles recorre à tradicional injeção suplementar de gasolina nas partidas a frio, abolido no Civic e no Corolla em favor do preaquecimento de álcool. No C4 Lounge e no Focus a alta pressão da injeção direta garante o funcionamento mesmo sob temperaturas muito baixas. O Jetta é movido apenas a gasolina.
• O Volkswagen usa uma versão do câmbio DSG com embreagens em banho de óleo, que o habilita a lidar com torque mais alto que a caixa com embreagens a seco usada, por exemplo, no Golf de 1,4 litro. Embora a Ford disponha de ambos os tipos em sua produção no exterior, apenas modelos superiores como o Mondeo usam aquele com óleo: no Focus, mesmo o de 2,0 litros, vem o tipo seco.
• Como curiosidade, tanto o VW quanto o Ford usam duas relações finais (de diferencial) para os câmbios: a segunda relação serve apenas à quinta e à sexta marchas no Jetta e à terceira e à quarta no Focus. Na prática, nada muda no comportamento do carro, mas é preciso levar essa particularidade em conta ao observar as relações de marcha — é por isso que no VW a quinta aparece como mais curta que a quarta, um aparente absurdo.
• Além da independência entre as rodas, que pode ser obtida também com outros sistemas, a suspensão traseira multibraço usada por Civic, Focus e Jetta tem outra vantagem: a variedade de articulações permite à engenharia calcular o posicionamento ideal das rodas em cada condição de uso, seja com suspensão comprimida ou distendida e com acelerador a pleno ou cortado. O eixo de torção empregado pelos dois outros modelos é bem mais limitado nesse aspecto, embora tenha a vantagem de dispensar alinhamento da traseira por toda a vida útil do carro.
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